Mundo Gastronômico

10 junho, 2010

Fugindo da tarde fria e cinza de São Paulo em rumo ao Sol da Toscana



Quinta fria e cinza em São Paulo, quase febril, sob as cobertas, pesquisando material para evento À mesa com Frances Mayes. Mergulho de cabeça no livro Sob o Sol da Toscana que imediatamente me transporta para outra dimensão...
“Minha idéia do paraíso é a de passear de carro pelas estradas de cascalho da Toscana, muito feliz por estar perdida.” (p.18)
Eu me pego relendo o livro com a mesma rapidez que devoraria qualquer das receitas citadas que aparecessem a minha frente nesse momento. Concluo: sou uma glutona mental compulsiva – se é que existe tal definição - pois fico imaginando saborear cada ingrediente de maneira tão intensa que sinto até os aromas.
Desafio quem conseguir ler o livro inteiro sem salivar de desejo ou sentir fome e não se imaginar em nenhuma das belíssimas paisagens citadas.

Transcrevo aqui uma seqüência de frases apetitosas e arrebatadoras do livro:
Festina tarde era um conceito da Renascença: a pressa é inimiga da perfeição.” (p.114)
“Os tomates são tão fortes que nos calamos ao prová-los.” (p.143)
“Sinto-me imersa aqui; minha vida real me parece remota.” (p.147)
“A culinária de inverno por aqui faz lembrar o caçador chegando à porta de casa com os bolsos cheios de aves, o labrador recolhendo a produção de azeitonas e começando o trabalho do tempo frio...” (p.256)
“A comida toscana desta época do ano exige apetites respeitáveis: ragu de javali, lebre, cogumelos frito e polenta.” (p.256)
“ribollita, a sopa mais substancial que existe...” (p.256)
“Minúsculas clementinas ... suas cascas na lareira ... onde ficam negras e murcham, deixando escapar o cheiro penetrante do seu óleo que queima. Como os dias são curtos, os jantares são demorados e de longa preparação.” (p.257)
"De todas as ervas o manjericão contém a essência do verão toscano." (p.140)
“O que poderia ser mais sensual do que um almoço de prosciutto e trufas em schiacciata, um pão achatado como focaccia, com sal e azeite de oliva, acompanhado de um Brunello? A total simplicidade e dignidade da comida toscana!” - Isso chega a ser indecente...

Assim, entre palavras e comidas imaginárias, continuarei colhendo material para montar o cardápio do evento. Por enquanto só acumulei as receitas. Quem degustar esse cardápio completo provavelmente teria morte certa pelo excesso de ingestão de alimentos – coisa que não acontece quando a gula é imaginária!

Escolho os pratos não só pelo sabor (tampouco pela quantidade de saliva que minha boca exala ao pensar neles), mas penso no gosto do público, na disponibilidade e acesso aos ingredientes, no preço de custo e venda, na logística de produção e serviço, e no fator de atração que provocaria para que as pessoas queiram sair de suas casas para consumi-los. Fatores que ajudam a criar um cardápio ideal.

Ainda há muito a pensar antes de decidir, mas aí vai uma prévia:

Antepasti: Azeitonas fritas recheadas com bacon (p.126); Flan de alho (p.266); Feijão branco com sálvia e azeite (p.38) ou com pesto de sálvia (p.140); Finochiona – salame fininho com sementes de funcho. (p.126); Salvia frita (p.145 e p.160); Duo de brushcette: com pesto di rucola , e com pecorino e nozes.

Primi Piatti: Ribollita (p.260); Lasagna de cogumelos silvestres (p.259); Ruchetta – spaghetti com pancetta e rucola e creme de leite. (p. 38)

Secondi Piatti: Coelho com tomates e aceto balsâmico; Polenta com lingüiça de javali e queijo fontina (p.264); Lombinho de porco caramelado com mel e sementes funcho. (p.265)

Contorni: Salada quente de Porcinoi c/ pimentões (amarelos e vermelhos) assados. (p.267); Salada de rucola radicchio e chicória (p.125); Vagens minúsculas com funcho e azeitonas (p.145).

Duo de Dolci: Cheesecake salpicado de nozese gorgonzola servido com peras ao Vino Nobile. (p.268); Torta dobrada de pêssegos, com de cerejas ao vinho, acompanhada por sorbet de tangerina. (p. 162 e 268)

Digestivos: Grappa; Amaro; Vin Santo; Café, Biscotti e Amaretto.